Esta matéria pode conter spoilers
A segunda obra do autor no selo Tsuru da Editora Devir, Sunny é um mangá seinen escrito e ilustrado por Taiyō Matsumoto.
A obra retrata o dia-a-dia de um grupo de adolescentes que residem em um orfanato no Japão. Escondidos com um semblante de piadas e ironias, estas crianças mostram os sentimentos mais puros sem muitas palavras. E esse é um dos motivos pelo qual Sunny não pode ser deixado de lado em uma leitura, muito menos ser lido às pressas.
Ao caminhar do enredo, nos deparamos com mães que deixam seus filhos no orfanato com a promessa de voltar a morarem juntos assim que a mesma conseguir uma condição financeira melhor ou poder se mudar para uma casa que comporte os dois, porém, em diversas vezes, é observado a mesma história se repetir e as crianças nunca mais saem de lá.
Mesmo com background de pais alcoólatras, internados por alguma doença ou até mesmo pais que decidem “se livrar” de seus filhos, Sunny mostra o outro lado da moeda. O lado do medo, da ansiedade, do abandono e principalmente na auto aprovação que estes adolescentes se afogam. Tudo de uma forma sutil, mas suficiente para ter seu impacto.
A história caminha com calma. Somos apresentados a um orfanato que não para: Tem crianças correndo brincando, outras gritando “quem pegou o meu boneco”, os adultos tentando acalmar a situação e o dia-a-dia vívido de todos aqueles presentes.
Independente da idade ou da vivência, todos os adolescentes querem estar dentro de Sunny, um carro velho de cor mostarda onde todos os sonhos e aventuras são possíveis. Lá você pode gritar, chorar, se imaginar como um badass de filme de ação ou até que está voltando para casa.
Sunny não tem plot twist, nem quer ser uma obra assim. Não tem um herói e não tem alguém com sede de vingança partindo para uma luta. Aqui tem as vidas das pessoas, que podem ser daquele orfanato perto da sua casa ou de alguma pessoa que você conhece. É nesta obra que conseguimos ver alguns dos privilégios que temos na vida e não notamos.
O autor de Tekkon Kinkreet (também do selo Tsuru) surpreende mais uma vez. Matsumoto é um mangaká de mão cheia que entregou mais uma vez uma obra fantástica, sendo um grande ganho para o selo da editora e para nós leitores brasileiros.