Já começo avisando: se você é cinéfilo aficionado por um gênero específico ou que reputa o trabalho de um cineasta como genialidade, esse filme não é para você.
No dia 11 de julho, estreou MaXXXine, terceiro e último filme da trilogia de Ti West, antecedido por X – A Marca da Morte (2022) e Pearl (2022). Com uma bilheteria expressiva, o filme tem dividido a opinião do público.
Antes de mencionar o filme de fato, é importante demarcar a linha temporal de Maxine Minx. Sendo a única sobrevivente do massacre da Fazenda do Texas, retratado em X, a jovem vai para Los Angeles atrás do seu grande sonho de ser uma estrela. Quinze anos se passaram e ela segue vivendo num cenário marginalizado, trabalhando como stripper de cabine e atriz conhecida de pornografia.
Logo de início, temos a cena do teste da nossa protagonista para o filme “A Puritana 2“, diga-se de passagem: uma entrega de atuação impecável de Mia Goth. Ao ser indagada sobre o porquê mudar da pornografia para o terror, a personagem afirma seu desejo por uma carreira maior e pontua pela sua idade seu tempo de êxito na pornografia logo chegará ao fim.
Curiosamente, enxergo essa fala dita tão cedo no filme, como um ponto chave da história. O objeto do filme não é o corpo de Maxine, não são as mortes torturantes do assassino misterioso, é a trajetória da protagonista para alcançar seu grande sonho. Importante mencionar: um sonho extremamente volúvel e efêmero, a fama.
Não é gratuitamente que Maxine apaga um cigarro na estrela de Theda Bara na calçada da fama. Numa Los Angeles sórdida, vemos diferentes mulheres morrendo em busca de um sonho ou se agarrando ao único meio possível de realizá-lo.
O diretor faz uma ode ao cinema ao mesmo tempo que elucida a plasticidade e superficialidade daquele universo. “Tudo por fora, completamente vazio por dentro”, parafraseando a personagem Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), diretora do filme “A Puritana” dentro da história. Dessa maneira, West homenageia o cinema de horror ao passo que critica a abjeção do feminino dentro do cinema.
Os elementos se complementam de forma tamanha, que não é nada superficial. E, portanto, não perceptível a todos os olhares. Os fantasmas do passado que assombram o presente de Maxine, se cruzam com os fantasmas que assombram o feminino dentro do universo de Hollywood. Não se pode esquecer que, diferente da Pearl, Maxine não mata por desejo pela morte. Ela mata para defender a sua vida.
É inegável o quão é previsível o homem que tanto procura por Maxine ser seu pai. Porém, isso não se dá de forma negativa ao enredo, muito pelo contrário, é uma forma justa de fechar o arco do pai que procura pela filha perdida num mundo de perversão e maldade, sendo ele próprio corrompido por esses elementos. Quando ele afirma dar à filha o que ela deseja, fazendo um filme, ele só considera o que ele vê como a realização do sonho. Tal qual a grande indústria do cinema fez com tantas mulheres, por tantos anos (e, sejamos honestos, ainda faz).
Ser uma loira Hitchcock não é ser considerada genial. É apenas ter uma faísca de brilho antes do ostracismo. É continuar cheirando cocaína antes de entrar em gravação, mas dessa vez, com a carteirinha do sindicato de atores. Se o ostracismo é a sina das mulheres hollywoodianas, que seja tendo a vida que elas merecem.