Acrimônia aborda de forma assustadora a mente de uma mulher que, à princípio se mostra normal e vítima de uma injustiça, mas que gradativamente se revela desequilibrada em relação aos seus sentimentos amorosos. E apesar da suposição de um estado mental danificado, ainda é um retrato descritivo primoroso da psique feminina.
Mesmo que o público esteja diante de uma ficção, a obra mostra com muita realidade o funcionamento de um relacionamento e o perigo eminente do “ponto de vista”. O roteiro praticamente faz um apelo ao público para que os casais sentem no sofá e conversem sobre seus problemas para que uma situação simples não se torne uma grande tempestade. A questão que dificulta é o caso de um dos parceiros possuir algum problema psicológico. Então a ajuda profissional seria o caminho.
E todo esse questionamento sobre a relação entre pessoas é bem-vindo, porém o filme demonstra uma direção desequilibrada e um roteiro vacilante. O filme está sempre preparando o público para algo que ele não vai receber, e quando acontece, no final, a execução é aquém do esperado. O roteiro esquizofrênico não consegue se decidir que tipo de filme ele está entregando. Para esclarecer, o longa tenta se vender como uma aventura de vingança, mas na prática ele demonstra ser um drama psicológico com pitadas de terror, dependendo da forma como o público absorva as loucuras da personagem. Inclusive, Acrimônia se finaliza como um clássico filme slasher, porém mal executado e mal encaixado com o andamento do longa. Isso faz com que a produção se torne esquizofrênica, sem se firmar em um gênero que o classifique e isso pode configurar em um problema para o público em reconhecer o filme pelo qual pagou para assistir.
Outro problema com o roteiro é que nós temos acesso à história pelo relato de Melinda, que conta os fatos para a sua psicóloga. Então deveríamos receber a trama pelo ponto de vista da personagem, o que de fato acontece em boa parte do longa. Porém o espectador terá acesso a cenas que Melinda não teria o conhecimento, ou seja, não faria sentido ser assistido pelo público. É o clássico erro na condução de um filme que opta por utilizar o recurso da narração.
Como mencionado, o andamento do filme é igualmente prejudicado pela direção, que também transita entre as narrativas de drama, comédia e terror. O problema não é a alternância, mas executá-las sem que haja uma conexão firme e coerente entre os gêneros. Mas sendo honesto com o diretor, ele conseguiu extrair boas atuações entre o casal principal da trama. Vale ressaltar que o trabalho de Taraji P. Henson (Melinda) impressiona quando a câmera valoriza sua presença em cena.
Acrimônia não traz um primor técnico e não é tão bem conduzido. Direção e roteiro confusos, uma fotografia nada inspirada e uma trilha sonora genérica; mas se o público deixar o filme fluir com a sua história, poderá sair do cinema com bons questionamentos em mente sobre relacionamento entre casais.