Larry “Doc” Shepard (Steve Carell) recebe a pior notícia que um homem poderia ouvir: Seu único filho foi executado, em circunstâncias obscuras, ao servir na Guerra do Iraque. Psicologicamente abalado com a perda, Larry decide procurar dois velhos amigos: Salvatore “Sal” Nealon (Bryan Cranston) e Richard Mueller (Laurence Fishburn), com quem serviu no Vietnã há trinta anos atrás.
Juntos, partem em uma viagem de carro pelos Estados Unidos e terão que orientar Larry a tomar a melhor escolha: Enterrar o filho como militar no cemitério de Arlington ou levá-lo de volta, como civil, para a sua cidade natal e depositá-lo junto à mãe recém falecida.
No reencontro, os amigos constatam que tomaram rumos distintos: Larry sente o orgulho de ter sido um bom marido e pai. Sal se tornou o dono de um bar, bebe além da conta e se orgulha por sempre sincero. Já Richard se casou, teve filhos e se converteu num reverendo protestante, como uma tentativa de expurgar os erros do passado. Durante a viagem, os amigos analisam os caminhos que os levaram até suas atuais vidas.
Traçando um paralelo na atuação dos Estados Unidos em conflitos no Vietnã (1959-1975) e Iraque (2003-2011), a temática de guerra nos faz questionar se a história, as mentiras contadas pelo governo americano e os erros do passado se repetem. Até quando jovens americanos serão enviados para morrer numa guerra que não é deles? “Cada geração tem a sua própria guerra”, recita um dos amigos.
Há uma dura crítica à indústria de guerra que se alimenta da dor e do sofrimento para continuar a sua expansão. Entretanto, no desfecho, o roteiro se contradiz na defesa ideológica de que o importante é o orgulho pessoal de servir ao seu país, acima das mentiras dos governantes.
O roteiro é simples, tradicional, emotivo e com uma temática de guerra bem batida. O filme transita entre a comédia e o drama e hesita ao escolher um gênero para se definir. O desenvolvimento da trama é um pouco arrastado e se tivesse vinte minutos a menos na edição final seria o ideal. A fotografia traz tons cinzas para contrastar com o processo de luto e enfrentamento com o passado dos personagens. A viagem dos amigos é embalada por uma trilha sonora composto por canções folks.
O elenco é um trio poderoso: Carell, Fishburn e Cranston. Quem tem o melhor personagem é Bryan Cranston, que desperta a maior proximidade e empatia com o público. Laurence faz do reverendo um personagem rígido e correto, procurando-se redimir dos pecados da juventude. Steve Carell empresta o seu carisma característico para defender a dor contida de um pai diante das perdas sofridas.
“A Melhor Escolha” é uma continuação afetiva do filme “A Última Missão” (1973), do diretor Hal Ashby, uma comédia dramática protagonizada por Jack Nicholson, Otis Young e Randy Quaid. É baseado também no livro homônimo de Darryl Ponicson.
A continuação do drama na visão do diretor Richard Linklater mistura a crítica ao militarismo norte americano ao humor negro presente com a força dos seus diálogos. O diretor trabalha as sutilezas e a sensibilidade ao contar a história de três homens comuns e as feridas que a guerra deixou neles. O resultado são bons personagens, boas atuações e bons diálogos.
Numa execução honesta e tocante, “A Melhor Escolha” é um filme sobre as escolhas que nos definem e as honras pessoais (ou não) conquistadas por elas. Mostra o valor de uma verdadeira amizade. Quando precisar de um ombro amigo, você o terá, independente das diferenças e dos rumos tomados em suas vidas.
https://youtu.be/3gvow2wDdiw