A Rush of blood to the head (Um grande fluxo de sangue para cabeça, em tradução livre), de Marcello Marshall (independente), investiga o amor numa análise pessimista cruzando-o com o egocetrismo. A obra possui três partes: Enquanto não-óbvia afirmação do maquiavelismo; Enquanto fábrica de iludidos e falsificador da realidade; Enquanto fábrica de des-iludidos e análises pessimistas sobre o amor.
O autor é um jovem de 22 anos que, segundo ele, encontrou dificuldades em escrever o livro, sendo o seu primeiro. A obra foi escrita em 2019 e é resultado de um primeiro passo que trás incertezas do próximo, mas Marcello Marshall já está ansioso pela jornada.
Apesar do título estar em inglês, a narrativa é toda em português. A edição física é compatível com a ideia transmitida da narrativa, ela estabelece a estética de um caderno de anotações. Quando se olha pelo lado de que se trata de uma análise, é bastante coerente esse tipo de impressão, todavia o trabalho final da ilustração da capa não parece ser tão trabalhoso, uma ideia mais minimalista e rústica combinaria melhor com a estrutura e conteúdo do livro.
A premissa explora duas possibilidades:
“No primeiro caso, ele é tido como sentimento que vai contra aquilo que minha análise-da-psique infere: que nós agimos tão-somente para elevar, em termos espinosanos, nossa ‘potência de agir’. Logo, o amor nos encaminha a um estado de submissão desejado que, em outros casos, costuma nos gerar sentimentos negativos.”
“o segundo caso, em que o amor pode ser encarado como uma ‘negação’ dos instintos e afetos para uma afirmação destes. Instinto, aqui, é inclinação para a expansão do ‘eu’ e para o domínio de fragmentos do mundo.”
A análise evita cair nos significados superficiais representantes do amor ao longo do tempo; inclusive não as ignora, as explica e refuta com base histórica e biológica. Apesar de não entrar na complexidade da mente humana, a priori estabelecida é o Ego.
Para prosseguir, o leitor deve entender que o indivíduo está condenado ao seu egocentrismo; o significado do objeto é o que é pelo instrumento do observador, sendo o observador o instrumento; no fim o observado não se difere do observador. Não falando do subjetivismo, senão sequer haveria uma análise, mas sim de uma proposta mais próxima ao idealismo: o ser é o seu próprio meio e seu fim.
Marcello Marshall sabendo desta condenação do indivíduo ao seu ego e como isto estabelece a sua ordem de mundo na razão e emoção, sugere que o estudo do amor tenha como base o benefício individual, o que ganha forma nos resultados de seus exemplos em situações coletivas, tanto com objetos ou pessoas.
“Nesse sentido, daríamos lugar ao outro para, postumamente, garantir que nossa potência de agir aumentasse ou não fosse diminuída. Sendo assim, o egoísmo não acabaria onde o amor começa, porque ato de amor seria sempre maquiavelismo, puro exercício de astúcia, contrair para expandir, descer um degrau para poder subir dois.”
Todo julgamento e pensamento que tenta persistir a sua moral na ética estabelece uma proposta falsa, não pela deformidade da inteligência coletiva, mas por ela não poder ser sublime. O grau que o ser busca será para si mesmo. E o coletivo não obtém nenhuma estrutura para transcender através da formação de seres individuais.
Logo, o que vemos na obra tem a clara afirmação da falsidade nas ideias de que o amor propõem fim do egoísmo.
E partindo deste ponto, de que o amor não é representante do coletivismo, o rumo da análise não possui medo em assumir as intenções de busca pelas relações não para fins felizes e divinos, mas para a elevação de si mesmo através de um poço de prazeres (quem ou o que lhe está nessa relação afetiva com o ser).
O autor é bastante sucinto e suas palavras fazem bom uso da servidão da linguagem para o realismo, visando a representação da ideia. Não há duvidas de que ele buscou transmitir de forma máxima e com cuidado o que pensa. O livro 1984 trata importância das palavras, já que é um dos núcleos do conflito na distopia; ver uma escrita crua deste modo com seus sentimentos mostra que a versão pessimista não é para nos incutir raiva ao amor, mas para tratá-lo com sinceridade e maturidade.
Certamente é um dos melhores livros até agora. Para contrapor um ponto, seria necessário mais tempo de pauta sobre o amor do cristianismo, também presente nos assuntos do livro. Pois este amor, apesar de muito visto como propriedade do coletivo, serve como admissão do individualismo, do qual por aceitar estes fatos do ego é que Jesus pode ser capaz de não julgar ao outro.
A obra, no seu último capítulo, passa a se transforma em um argumento do qual nos relaxa. Marcello Marshall desmascarou o indivíduo presente no amor, a compreensão que obtemos com sua exposição nos alerta não só sobre o amor em si, mas sobre a atenção que devemos ter conosco nos assuntos e sentimentos, a ponto de sabermos que qualquer nobreza não é livre do egoísmo.
O livro está previsto para estar disponível na Amazon, em dezembro (digital e físico), contudo já pode ser adquirido com o próprio autor, através do contato específico pra gestão da obra, em que ele fica responsável por responder quaisquer dúvidas como formas de pagamento e envio ([email protected]).