Inspirado no romance escrito por Karen Dionne, chegou aos cinemas a incrível história de superação de Helena (Daisy Ridley). A Filha do Rei Do Pântano é um suspense intrigante que envolve o espectador do início ao fim.
O filme conta a história de Helena, uma menina que foi criada numa cabana no meio de um pântano. Seu pai sequestrou a sua mãe e a levou para viver em um pântano isolado da civilização, Helena é fruto dessa relação.
A Filha do Rei do Pântano encerra o ciclo da infância de forma bastante chocante. Devido a um contratempo, um turista acaba se perdendo de sua trilha e se depara com a cabana onde Helena vive com sua família. Nesta ocasião, se encontravam apenas ela e a mãe no local, uma vez que seu pai havia saído em uma de suas caçadas solitárias. Aproveitando essa oportunidade, sua mãe suplica desesperadamente por ajuda, revelando ao espectador que ela não estava vivendo naquela realidade por vontade própria.
A sequência é bem rápida, e de alguma forma o pai dela ainda estava por perto e se depara com essa situação. No final Helena e sua mãe conseguem escapar, já o turista acaba não tendo a mesma sorte. A menina não entende muito bem o que está acontecendo e acaba sendo levada da cabana “contra a sua vontade”.
Essa breve introdução sobre a sua infância é imprescindível para construir a personalidade da protagonista. Por conta dessa confusão em relação a situação de sua mãe, Helena não tem discernimento a respeito do que seu pai havia feito. Ela não entende que sua mãe foi sequestrada e mantida ali contra sua vontade, e também não tem ideia de como viver em contato com a civilização, já que ela foi criada num contexto de vida selvagem, isolada, aonde tinha apenas contato com os pais. Por sua vontade, ela voltaria para a Cabana, o que acaba criando uma tensão entre mãe e filha.
O enredo é habilmente construído, depois de uma breve introdução sobre a sua infância, o roteiro aposta entre alternar o presente (aonde Helena já é uma mulher adulta, casada e com uma filha) e alguns flashbacks de seu passado.
Essa estrutura permite ao espectador, entender as motivações e os acontecimentos que moldaram a protagonista, além de criar uma atmosfera de suspense. A trama começa a se desenrolar quando uma Helena mais velha descobre que seu pai, que até o presente momento estava preso, acabou escapando da prisão e está à solta novamente. Com medo de que ele a encontre, ela precisa confrontar os traumas do passado para proteger a si mesma e à sua família.
Um ponto negativo na obra é que os personagens secundários são pouco desenvolvidos, apesar de contribuírem como um pano de fundo para desenvolver a psique da protagonista. Em contrapartida, Ridley consegue brilhar e explorar bem o emocional ferido, confuso e conturbado de Helena fazendo uso destes personagens como elementos vivos que constroem as raízes de seus traumas.
O único personagem que é um pouco mais trabalhado, ainda que desenvolvido em pequenas doses e apesar do pouco tempo de tela, é o seu pai (Ben Mendelsohn).
Entre sequencias e flashbacks, são revelados também facetas mais sombrias, e comportamentos abusivos por parte do pai com a menina e também com a mãe dela, dando uma dimensão maior do que acontecia e construindo os aspectos doentios presentes nessas relações.
A Filha do Rei Do Pântano aborda de maneira muito concisa as relações entre pais e filhos, demonstrando como essas relações familiares são responsáveis por moldar nosso caráter, visão de mundo, e influenciar nas decisões que precisamos tomar ao longo da vida.
Conseguimos ver o quanto a protagonista é assombrada pelos fantasmas do seu passado, e por conta disso não consegue confiar completamente em ninguém, mesmo no próprio marido que demonstra ser digno de sua confiança e tenta penetrar essa concha que ela criou ao redor de si.
A direção de Neil Burger (Divergente) consegue prender o telespectador, ao mesmo tempo que cria uma atmosfera de tensão do início ao fim. As facetas de Helena (Ridley) são bem construídas, fazendo com que Helena seja tanto uma vítima lidando com seus traumas, mas também mostrando que ela pode ser uma mãe amorosa e dedicada, tentando fazer o melhor pela sua família e se esforçando para se adequar a uma realidade mais “normal”, diferente do que viveu durantes anos no meio do pântano.
Ridley entrega muito bem e consegue transmitir essas facetas distintas presentes na mesma Helena. Outro ponto positivo é a fotografia, tornando o pântano um personagem da trama, tanto para demonstrar sua beleza infinita aos olhos quanto para trazer um aspecto mais sombrio presente também em sua imensidão.
Apesar de fazer uso de alguns clichês, e em alguns momentos sentir que outras relações com os personagens secundários poderiam ter sido exploradas de forma mais profunda, A Filha do Rei Do Pântano entrega uma experiencia de imersão que faz com que o espectador se emocione com a jornada de superação da Helena, enquanto aborda temas complexos que nos fazem rever também as nossas próprias relações pessoais e como nossos traumas podem moldar a nossa personalidade.