Na arte, o subjetivismo muitas vezes assume a função de resgatar obras da mediocridade. Existem filmes que causam tanta estranheza, que suas qualidades acabam vindo de fatores quase imperceptíveis a olho nu. Mas sempre há alguém que as atribui, portanto acabamos por aceitá-las. Isso acaba estimulado certas indústrias, como a de filmes trash, ou de filmes tão ruins que se tornam cult, como o infame “Waterworld“, de Kevin Costner, ou o divertido “Um Drink no Inferno“, de Robert Rodriguez. “The Room“, filme de 2003 produzido, escrito, dirigido e estrelado por Tommy Wiseau, não conseguiu uma perspectiva otimista de ninguém, a não ser do próprio criador. Este conquistou a pecha de pior filme já feito, além de um público específico e relevância para ser tema de um filme cotado para o Oscar 2018.
“Artista do Desastre” começa nos mostrando a relação do jovem Greg Sestero (Dave Franco, de “Truque de Mestre“) com a figura para-lá-de-excêntrica de Tommy (James Franco). Os sucessivos fracassos para tentarem se tornar astros de Hollywood acabam por unir ambos, que decidem arriscar tudo indo para Los Angeles atrás de seus sonhos.
Tommy, ao invés de perceber que é abaixo da crítica, se pega imaginando por que o mundo não enxerga sua suposta genialidade. Portanto, decide ingressar na indústria cinematográfica na marra, fazendo seu próprio filme, que se chamaria “The Room“. Greg, eternamente agradecido pelo apoio e oportunidades oferecidos por Tommy, não hesita em subir na barca furada. O que vemos a seguir é uma aula do que não se deve fazer na gestão de um projeto, sobretudo com as pessoas envolvidas.
O argumento é bem traduzido por um roteiro simples, sem barriga e com as ações tendo consequências, logo a trama segue bem conduzida. Sequências sem cortes e com a câmera na mão ajudam a trazer o espectador para dentro do filme. Para ajudar na imersão ao fim da década de 90, utiliza-se filtros granulados, dando a impressão de estar sendo passado em película, o que fica mais em evidência nos cortes diurnos e externos, validando ainda mais a experiência. Porém, a trilha sonora se apresenta anacrônica em diversos momentos, como quando toca “Rythm of the Night” já nas barbas do ano 2000, ou “Epic”, grande clássico do Faith no More, já no início do século XXI. Mas não chega a ser o bastante para tirar o clima “noventista” oferecido.
O elenco orbita em torno de seus personagens centrais. Dave Franco divide o protagonismo com seu irmão James, apresentando um Greg inocente e otimista o bastante para seguir adiante com o projeto. Mesmo desempenhando bem seu papel, o grande destaque é de seu irmão mais velho, que nos entrega um Tommy bizarro e completamente fora de sintonia com a sociedade, que diverte o público com seus trejeitos e falta de noção. Por mais que seus atos acabem se tornando prejudiciais àqueles ao seu redor, não deixamos ser cativados, sobretudo pelo patético que nos é oferecido. De certo modo, o bom trabalho de Franco é comparável à repercussão que “The Room” teve. Ambos conseguem despertar boas sensações do público, mas apenas o primeiro é autoconsciente.