É difícil quem não conheça o clássico do cinema O Iluminado de 1977, dirigido por Stanley Kubrick, e adaptado do livro homônimo de Stephen King. Mas o que não é tão sabido assim é que King detesta a adaptação de sua obra no cinema, e não entende como fez tanto sucesso.
O Diretor Mike Flanagan, famoso pela série de terror A maldição da Residência Hill, chega com a difícil tarefa de homenagear o clássico de Kubrick, e ao mesmo tempo adaptar a nova história de King, que conta o que aconteceu com o pequeno Dany Torrence depois dos eventos traumáticos no Hotel Overlook. Já lhes adianto que ele entrega.
Desde as primeiras cenas sentimos a intensidade de Kubrick, a primeira tomada já remete ao filme de 1977, com a câmera sobrevoando a estrada e a sonoplastia do primeiro longa. O filme se divide inicialmente em três histórias separadas.
A vida de Dany após o Overlook
Primeiro acompanhamos a vida de Dany e sua mãe logo após os eventos de O Iluminado, e descobrimos como a criança lidou com seus fantasmas. Nesse início já revemos alguns personagens icônicos do primeiro filme.
Após um salto no tempo, partimos para a vida de um Dany adulto, interpretado por Ewan Mcgregor, descobrimos que ele não lidou tão bem assim com seus demônios, e a exemplo de seu pai, Jack Torance, Dany se tornou alcoólatra e se usa do álcool para suprimir a iluminação. Com a ajuda de seu amigo imaginário Jack, Dany chega em uma pequena cidade do interior, onde consegue tratar de sua doença e começar uma nova vida onde ele ganha o apelido de Doutor Sono.
Verdadeiro Nó
Rodando pelos Estados Unidos, está o grupo do Verdadeiro Nó, comandado pela Rose, a Cartola. Aparentemente um grupo inofensivo de Hippies, o Verdadeiro Nó esconde uma finalidade sombria.
A atuação de Rebecca Ferguson é a mais fraca dos elenco de principais. Não passa um medo genuíno, por vezes cheguei até a questionar o seu papel na trama.
Abra Stone e os Poderes de Iluminada
Por fim conhecemos o terceiro, e mais interessante, elemento dessa história. A pequena Abra Stone (Kyliegh Curran), uma garotinha que desde pequena demostra grandes poderes de iluminação.
A princípio a menina usa seus poderes apenas quando está sozinha, por ter vergonha de se sentir rejeitada. Até que um dia presencia uma evento traumático protagonizado pelo Verdadeiro Nó. Aqui temos que fazer um parênteses para falar da pequena, mas arrepiante atuação de Jacob Tremblay, você não espera encontrar um ator desse calibre fazendo apenas uma ponta num filme desses, mas a escolha do ator foi fundamental para a intensidade da cena, foi uma daqueles momentos em que eu não sabia se tampava os olhos em agonia ou continuava assistindo ao brilhante desempenho do ator, confesso que tive que enxugar umas lágrimas depois.
É exatamente aqui que o filme se transforma completamente. A partir de agora é um filme de ação, com um quê de sobrenatural. Diferente de Dany, Abra lida com sua iluminação de uma maneira muito mais heroica, o que é de se esperar uma vez que Abra representa a Geração Z, muito mais engajada e ativa. Aqui devo abrir outro parênteses sobre a trama, essa cena, que em termos de roteiro é muito importante na história, teve uma escolha fotográfica e uso de CGI, totalmente fora de contexto no filme.
Homenagem ao Iluminado
Se você é fã de Kubrick, esse é o seu momento. O terceiro ato todinho é uma ode a obra do diretor.
Quanto os protagonista precisam retornar ao Hotel Overlook, mergulhamos em um mar de referências. Quadro a quadro temos aquela sensação e voltar para casa, e passeamos por todos os cômodos do Hotel, revisitamos as cenas clássica e revemos os personagens aterrorizantes do primeiro filme.
Um fã service muito bem servido para quem gostar de ver seus clássicos numa roupa nova. O filme entrega o que é prometido. Homenageando Kubrick, sem irritar King, e entregando aos fãs uma obra atual e tecnicamente muito bem feita.