Uma sala clara com iluminação um pouco esverdeada, uma maca cheia de sangue fresco e um homem limpando essa maca para receber o próximo cadáver. Esse é o cenário do mais novo filme nacional, que tem grande ambição em sua estrutura, prometendo nos entregar uma experiência na qual ficaremos pensando mesmo após sair da sala de cinema, e quer saber? Ele consegue.
Uma obra de terror dirigida por Dennison Ramalho – essa é a sua primeira vivência como diretor de um longa-metragem, antes disso ele só havia trabalhado em curtas e projetos menores, como: “Cruz das Almas” e “Ninjas”. Aqui ele conta a estória de Stênio (Daniel De Oliveira), um homem que possui um poder sobrenatural de conversar com os mortos. Trabalhando a noite, ele já está acostumado a ouvir relatos do além. Porém, quando essas conversas revelam segredos sobre sua própria vida, o homem ativa uma maldição perigosa para si e todos a sua volta.
É bastante difícil falar desse filme sem nenhum spoiler. O que eu disse nessa simples sinopse já pode ser considerado algo importante do filme que não seria bom revelar, mesmo que o momento em que ele dialoga com um morto seja uma das primeiras cenas do longa. Mas graças a interpretação do Daniel De Oliveira, durante uma boa parte do primeiro ato desconfiamos se ele de fato tem essa habilidade, ou se é coisa da cabeça dele.
O tempo todo o ator mantem o olhar assustado, com o corpo fechado e postura insegura, como se fosse um cachorro amedrontado, mas quando sabe que é o dominante em alguma determinada situação, seu olhar e postura inspiram intimidação. Não só ele, mas todos do elenco estão ótimos – Fabíula Nascimento (Odete) faz um tipo de megera irritante e que nos faz torcer contra durante todo seu arco; Bianca Comparato (Lara) é uma mulher doce, gentil e ao mesmo tempo extremamente forte e determinada, ela é como um anjo na terra. As crianças estão muito bem, com destaque para o menino, interpretado por Cauã Martins – seu personagem inspira raiva, dor e afeto, ele carrega uma grande carga dramática.
O gênero de terror desenvolvido no filme é bem explorado. O diretor gosta de brincar com sua percepção, em primeiro plano está ocorrendo algo, mas lá no fundo também tem alguma coisa discreta que nos chama atenção e nos faz pensar “isso não vai acabar bem”.
Ele também gosta de utilizar o suspense para enganar o telespectador, em vários momentos você não sabe o que é real, se o protagonista está enlouquecendo ou se o que vemos realmente está acontecendo. É um filme com efeitos práticos sensacionais, tem muito gore (chega a dar agonia). Mas percebemos que apesar de tantos acertos, o longa não escapou de algumas escorregada; existem determinadas situações onde as crianças testemunham algo que mais tarde pediria um desenvolvimento melhor, coisa que não acontece.
É muito notável que o longa é de baixo orçamento, e ainda assim tentam pôr coisas que não estão ao seu alcance, como o CGI – é tenebroso, sempre que um morto fala, o rosto é quase um tosco boneco digital, isso tira o telespectador da forte experiência que estava inserido em um estalar de dedos. Apesar de muitos conceitos classicos serem bem explorados na obra, alguns não escapam de clichês. Quem é acostumado a assistir filmes de terror consegue ter uma boa dedução de como terminaria algumas cenas, isso inclui até o uso de jumpscare, que não funciona.
Morto não fala é um bom suspense, com o terror bem desenvolvido em sua narrativa e um gore bem utilizado. Acertando mais do que erra, o novo longa nacional mostra a capacidade da indústria cinematográfica brasileira em filmes de gênero e nos deixa ansiosos para o próximo longa do diretor Dennison Ramalho.
Morto Não Fala está em cartaz nos cinemas brasileiros.
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