Entediado na quarentena? Não sabe como passar o tempo? Mulan saiu pra VO-CÊ! Não que o tédio vá passar, mas ao menos você pode olhar pra tela, ao invés do teto.
Dirigido por Niki Caro, Mulan é o mais novo Live Action da Disney, que tirou os últimos anos pra nos decepcionar com todas as suas adaptações de sucessos do passado.
Baseado nos contos chineses da guerreira Mulan e na animação de 1998, o filme conta a história de Mulan (Liu Yifei), uma mulher corajosa e diferente dos padrões chineses antigos, que aceita o chamado para o exército imperial se passando por homem, para poupar a vida de seu pai.
Quando o filme foi anunciado, houve muito falatório, pois a Disney informou que não seria um musical e não contaria com o alívio cômico e grande personagem Mushu, para “ser mais real e agradar ao público Chinês”. Bem, tenho novidades pra vocês… Ficou uma b****!!
É impossível não comparar os dois filmes, visto que um é espirituoso, divertido e bem executado, e o outro… bem, é esse negócio aí que eu acabei de ver. Não bastasse isso, ele está sofrendo boicote na China, pois a atriz principal fez declarações pró brutalidade policial em suas redes sociais.
Colocando comparações e tretas de lado, o filme é bom? Olha… Ele é bonito… quando o chroma key não ta escancarado.
Algumas cenas são lindíssimas, e isso é graças à fotografia de Mandy Walker (Estrelas Além do Tempo, Austrália). Eeeee acabou o que eu tinha de positivo pra dizer. Mentira, tem o Jet Li também. Agora acabou.
Com meia hora a mais do que deveria ter, o filme arrasta um plot simples com zero emoção. Lembra a cena da Mulan cortando o cabelo e decidindo tomar o lugar do pai? Lembra daquela emoção? Lembra? Então guarda ela na cabeça, porque aqui ela segura uma espada e já corta pra ela vestida saindo de casa. ZEEEEEEEEEEEEEEEEEERO emoção pra um dos momentos mais importantes da história.
Por falar em momentos que não aparecem em cena, os personagens agora tem teletransporte (só pode). Corta a cena e já estão em outro lugar fisicamente impossível de chegar no curto espaço de tempo do corte.
Me incomodou muito o pessoal no período imperial chinês falando inglês com sotaque. Principalmente as crianças. Mas aí num dá pra criticar tanto, todo filme dublado vai passar pela mesma situação. (Mas no fundo eu queria o povo falando mandarim).
Existem dois vilões dessa vez. Uma mulher super poderosa e um homem covarde… mas é homem. A apresentação e desenvolvimento deles em tela é fraquíssimo e você até esquece que eles trabalham juntos. Muito mal utilizados no plot, são responsáveis por vários furos de roteiro, mas claramente a Disney não espera mais que o público pense e reflita em seus filmes… A não ser que seja aquela mensagem final lá que ela te entrega umas 3x só pra ver se você entendeu mesmo.
Com o avanço da tecnologia e o entendimento de que muitas de suas obras são preconceituosas e machistas, a Disney está tentando agradar a todos e concertar os erros do passado. Em prol disso, ela não explora mais suas habilidades intelectuais e tem criados filmes mornos, contidos, comportados e sem sangue.
Lamento muito dizer que uma história tão bonita, feminista, protagonizada por mulher, escrita majoritariamente por mulheres e dirigida por mulher traga um resultado tão morno. Sinto dedos de gente grande contendo essa história, o que é um desperdício de talento.
O terceiro ato chega atrasado, mas dá um pouco de vida, com suas lutas, que só não causam um impacto maior pois o filme é para menores de idade.
Arrastado, desprovido de emoção, previsível, mal scriptado, mas com umas cores bonitas e o Jet Li. Ponto.
Recomendo fortemente mostrar o filme original às crianças que ainda não viram. E reveja ele também, aí sim a sua quarentena vai ganhar mais vida.