Baseado no livro The Amateur, do mestre da literatura de espionagem Robert Littell, Operação Vingança chega aos cinemas com a promessa de um thriller policial/político envolvente.
Littell, conhecido por suas obras recheadas de intrigas da CIA e da antiga União Soviética, tem o dom de nos fazer mergulhar em um mundo sombrio de conspirações e interesses escusos. E, diferente do que muitos gostam de rotular por aí, o filme está longe de ser “comunista”. A crítica aqui não é ideológica, mas sim geopolítica: e isso faz toda a diferença.
A trama começa com uma premissa que tem tudo para decolar: um dos chefes da CIA estaria por trás de um atentado terrorista brutal na Síria, incluindo a explosão de um hospital, um ataque suicida de homem-bomba e até mesmo a morte de soldados americanos.

Nesse momento, parece que o filme vai seguir por um caminho ousado, levantando o véu sobre o envolvimento dos EUA em conflitos que, teoricamente, deveriam estar longe do seu radar. Uma narrativa que poderia tocar em feridas reais e explorar um lado “conspiracionista” (com aspas, para suavizar) do governo americano. Mas é aí que a coisa começa a desandar.
Como de costume, e aqui o clichê reina, os vilões são russos. Rami Malek vive Charles, um “decoder” da CIA que perde a esposa assassinada por esse grupo russo, contratado justamente pelo chefão da CIA para executar seus trabalhos sujos. Em vez de expor os crimes da agência ao mundo, o protagonista resolve usar isso como chantagem: ele quer matar os responsáveis pela morte da esposa, e exige a autorização e treinamento da própria CIA para fazer isso em troca de nunca “vazar as provas” do crime da CIA.
A ideia de colocar Rami Malek (o eterno Elliot de Mr Robot) ao lado de Laurence Fishburne (o icônico Morpheus) parecia promissora, mas o resultado ficou no “mais ou menos”. A química entre os dois não é exatamente explosiva, e os personagens que poderiam ter camadas e complexos acabam sendo subutilizados. O filme, que começa com ritmo e tensão, vai se tornando raso e perde fôlego da metade pro final.

Falando em Malek, sua atuação aqui divide opiniões. De fato, ele está estranho, até “robótico” demais. Mas existe uma chance (pequena, porém possível) de que isso seja proposital, representando o trauma, frieza, ou até mesmo personalidade do personagem. Ainda assim, não é a performance mais memorável da carreira dele, longe disso.
Outro ponto que incomoda é o excesso de idealização tecnológica. Embora o personagem de Malek represente uma faceta mais “intelectual” da CIA, o filme exagera em gadgets e soluções digitais que beiram o impossível, o que quebra bastante a imersão, especialmente em um thriller que tenta se passar num mundo tão atual e “real”.
A produção tem seus méritos técnicos. As cenas de ação são bem coreografadas, com stunts eficientes, mas o enredo previsível e a falta de aprofundamento dos personagens secundários impedem que o filme realmente brilhe. Com 2h03 de duração, ele promete tensão constante, mas entrega longos trechos de marasmo. E quando finalmente chega ao clímax, tudo acontece rápido demais, quase sem explicação, deixando um gosto de “era só isso?”
Assisti ao filme no IMAX, mas sinceramente? Não valeu o upgrade. Diferente de um filme como Oppenheimer, que realmente usa o IMAX como uma ferramenta narrativa e sensorial, Operação Vingança não entrega nada que justifique o ingresso mais caro. Funciona perfeitamente numa sala comum ou até melhor, no streaming.

Por fim, mesmo como filme de ação, ele deixa a desejar. Sendo fã de filmes de ação, especialmente aqueles estrelados pelo Liam Neeson, que muitas vezes embarca em histórias ruins e mirabolantes, mas que sempre consegue prender a atenção com carisma e intensidade. Para mim, um filme de ação precisa errar muito pra ser considerado “ruim”, e Operação Vingança tropeça bastante. Não por falta de potencial, mas por decisões de roteiro e ritmo que fazem tudo parecer mais raso do que deveria.
Apesar dos pesares, talvez ainda agrade quem tem saudade da espionagem old-school, com agentes solitários, conspirações e reviravoltas. O filme pode não ser memorável nem inovador, mas entrega uma dose moderada de ação e intriga. Vale o ticket, só não o do IMAX.