Ter que dar continuidade a uma história tão forte quanto Planeta dos Macacos é uma tarefa árdua para qualquer um. E não é para menos, afinal a trilogia estrelada por Andy Serkis marcou por não só revitalizar uma franquia há tempos esquecida pelo 20th Century Studios como também por apresentar uma crítica sobre a humanidade, discriminação e intolerância.
Neste caso, a produção dirigida por Wes Ball (conhecido pelos filmes da saga Maze Runner e da futura adaptação de The Legend of Zelda) se destaca por trazer uma aventura clássica, divertida e com personagens carismáticos, mas dentro de uma trama sem a mesma força de seus antecessores. Não que Planeta dos Macacos: O Reinado seja algo a se dispensar – muito pelo contrário, é um longa que vale o ingresso – mas ele se encontra sim numa prateleira abaixo dos últimos filmes lançados pela franquia.
Ambientada muitas gerações após os eventos de Planeta dos Macacos: A Guerra (lançado em 2017), o longa segue a história do jovem chimpanzé Noa (interpretado por Owen Teague, de Black Mirror), que embarca em uma jornada para salvar seu clã, capturado pelo tirano Proximus Cesar (Kevin Durand, de Abigail).
Em sua jornada, Noa é acompanhado por Nova (Freya Allan, de The Witcher), uma humana com motivações secretas que se unem às dele na busca pelo resgate, e por Raka (Peter Macon, de The Orville), um orangotango que ajuda o chimpanzé na sua jornada e é um dos últimos estudiosos da palavra de Cesar.
A narrativa aqui é a típica história de amadurecimento: o jovem irresponsável protagonista que, chamado à aventura, chega ao fim muito mais ponderado e pronto para liderar seus iguais rumo a um mundo de prosperidade e harmonia… Batido? Clichê? Claro, mas nem por isso é menos interessante.
O problema aqui é que, apesar de cronologicamente manter certa distância da trilogia passada, O Reinado não consegue se livrar da influência da saga de Cesar, inevitavelmente caindo numa comparação que, honestamente, desfavorece a nova produção. Mesmo querendo apresentar uma história distinta do que vimos anteriormente, boa parte do plot do filme se baseia no legado deixado pelo primata, sendo um tema importante nesse mundo dominado pelos símios, desempenhando um papel significativo nos conflitos da narrativa.
Além disso, o contexto que recheou as primeiras aventuras – principalmente os filmes dirigidos por Matt Reeves, O Confronto e A Guerra – foi substituído aqui por uma trama que diverte, mas sem conteúdo além da diversão. Ao final do longa, se dá a impressão que Ball não tem a mesma personalidade que seu antecessor, que conseguiu trazer uma assinatura na sua forma de conduzir uma narrativa. Há em momentos um ensaio de uma crítica social mas não nada muito além disso, o que empobrece (um pouco) o novo longa.
Por outro lado, se Ball não apresenta nenhuma surpresa em sua forma de comandar a produção, ele também não compromete em nenhum momento. O diretor faz um trabalho tecnicamente louvável, nos presenteando com magníficas cenas desse mundo dominado pelos primatas, com as estruturas da civilização humana cobertas pela natureza. Neste quesito, a constante excelência na direção de arte da franquia se mantém inalterado, proporcionando ao cineasta a oportunidade de explorar a imersão em um ambiente genuinamente novo.
Isso sem falar que os próprios macacos estão mais impressionantes do que nunca quanto à suas caracterizações. O nível de detalhe dos efeitos especiais, desenvolvidos mais uma vez pelo estúdio WETA, é espetacular. As expressões faciais, os pequenos gestos, e mesmo as secreções e pêlos presentes nos corpos dos símios, mostram como o trabalho neste ponto continua exuberante.
Em relação ao elenco, o novo Planeta dos Macacos mescla por atuações excelentes – com destaque para Teague e Macon – com performances pouco inspiradas, como é o caso de Freya e William H. Macy, que interpreta um dos poucos humanos vistos no longa. Ambos fazem o que podem com seus personagens, mas com o roteiro de Josh Friedman (Expresso do Amanhã) entregando um desenvolvimento unidimensional para eles, não há muito o que fazer.
Além disso, quase chega a ser um incômodo como Nova aparece em cena com um aspecto “limpo”, com sombrancelhas e lábios sempre maquiados. Num filme que se ambienta num futuro pós-apocalíptico, não prestar atenção nesses detalhes podem tirar a atenção de um público mais atento.
Com quase duas horas e meia de duração, o longa oferece algumas sequências de ação satisfatórias, embora não sejam tão frequentes quanto o esperado para uma produção com esta duração. O ritmo do filme pode parecer ocasionalmente lento demais, mas isso contribui para sua evolução narrativa.
No mais, Planeta dos Macacos: O Reinado é uma adição interessante à franquia, entregando um bom “recomeço” nas telas e mantendo o padrão de qualidade estabelecido pela trilogia anterior, embora não consiga superá-la. Para os fãs da saga símia ou para aqueles que apreciam uma boa aventura sci-fi no cinema, é uma obra que vale a pena conferir.