“Se você tem um milk-shake e eu tenho um milk-shake, e eu tenho um canudo, meu canudo atravessa a sala e começa a beber seu milk-shake. Eu – Bebo – Seu – Milkshake! Eu bebo!”
Uma breve demonstração do capitalismo visto pelo diretor de forma suja e sangrenta na cena final.
Com uma abertura de 15 minutos sem um diálogo, apenas o sofrimento e a dificuldade de um homem, Daniel, trabalhando ardentemente em busca de algo que o preenchesse financeiramente, foi a partir daí que Paul Thomas Anderson assinou sua direção no filme com grande estilo, mas esse foi só o começo.
O filme faz cortes no tempo nos anos de 1898, 1902, 1911 e 1927. Mostra onde o “o homem do petróleo” Daniel Plainview chegava para conquistar sua fortuna, sendo ganancioso – pois não aceitava ser menor que ninguém no seu ramo – passando por cima de todos, até mesmo de pessoas, que comparadas a ele, eram inocentes e seu próprio filho.
Assistir todos os passos de Daniel com a trilha sonora e a fotografia tão realista só fez o longa ficar mais interessante, e, mesmo que a história não tenha sido uma das mais geniais, ela é tão original a ponto de te chamar atenção em detalhes em cada cena. Além de diálogos longos, precisos e sensacionais que te fazem refletir a cada palavra que sai da boca dos personagens.
Daniel Day-Lewis (Daniel) e Paul Dano (Eli) com toda certeza deram tudo de si e o diretor tirou bom proveito disso os deixando espetaculares em seus respectivos papéis, focando nos seus modos de agirem, de andar, suas expressões corporais e por último retratando em suas faces e falas… foi tudo comovente e realista. Emocionante. é claramente possível analisar todos esses aspectos na cena do batismo de Daniel com Eli e na cena final dos dois.
Todo o filme se desenrola nas capacidades entre fé, paternidade e masculinidade de um humano, mas até que ponto eles vão? É isso que é questionado o filme inteiro. É questionável também o modo exagerado de retratar as coisas, mas se pensar bem, ele demonstra que o sistema faz isso com as pessoas, as destrói, as manipula. São as faces do capitalismo. A trama cava todas elas adentro.
Um exemplo disso é na cena em que o poço de petróleo pega fogo, seu filho sofre um acidente e acaba surdo. Em vez de Daniel estar preocupado com o filho ou com o desastre ele demonstra felicidade e ganância com a fala:
“Tem um mar de petróleo aqui embaixo e sou EU quem vai tirar.”
Mas essa capacidade humana é capaz de normalizar toda a situação? Sim. A neutralidade ao redor em cada cena que Daniel se torna um ser humano instável e perigoso produz um ar de “normalidade”.
Adotar o bebê do seu colega de trabalho para fingir ser um homem de família a fim de ter sucesso na sua carreira; comprar uma cidade inteira para conseguir seu “mar de petróleo”; mandar embora seu filho depois de se tornar surdo por uma explosão que o próprio tem parcela da culpa; matar um homem por fingir que era seu irmão pelo seu sucesso financeiro; desistir de seu filho porque ele vai se tornar uma competição nos negócios; e até mesmo matar um pastor por quem tem conflito há 16 anos. Essas são as atitudes de um homem ganancioso, instável e perigoso. Ao ver todas essas cenas, tanto o ator quanto o cineasta transmitem temor ao personagem.