Happy Easter é como se deseja “feliz páscoa” em inglês, mas poucos sabem que Easter é o outro nome da deusa da fertilidade anglo-saxã. Ela também é conhecida por Eostre ou Ostara. Esta deusa da primavera também é retratada no livro Deuses Americanos de Neil Gaiman. O interessante de sua aparição é quando e por que ela se insere ao enredo.
Ostara é a deusa da fertilidade, do amor e do renascimento, era ela quem trazia a vida novamente aos campos e às plantações após o inverno, bem como o renascimento espiritual em cada fiel. Ela foi cultuada com diferentes nomes pelo povo anglo-saxão, pelos nórdicos e pelos germânicos.
A páscoa é um festejo totalmente dedicado à deusa, marcando o equinócio de primavera (março), o momento do renascimento da natureza, em que a terra está propícia a dar frutos, ou seja, a produzir vida. Após o sincretismo religioso com o judaísmo e com o cristianismo, a data sofreu alterações e, por isso, hoje se comemora depois do equinócio, geralmente em abril. É importante prestar atenção nas estações do ano, pois a primavera no hemisfério norte, principalmente na região europeia, acontece em março e no hemisfério sul (Brasil é um exemplo), em setembro.
Era comum naquela época, muito antes do surgimento de Cristo, que os povoados realizassem festejos aos deuses para agradecer e pedir suas bençãos. No equinócio de primavera não era diferente. Os adoradores de Ostara realizavam diversas atividades, porém a mais conhecida era a de pintar os ovos com tintas coloridas e enterrá-los na terra para as pessoas caçarem. Entendia-se nessa brincadeira que as pessoas que encontrassem os ovos seriam afortunadas com prosperidade pelo resto do ano. Era mais comum entre as crianças, talvez seja por isso que hoje em dia os ovos são de chocolate.
O ovo era um dos símbolos da fertilidade, pois os povos encaravam que dentro dele existia o segredo do surgimento da vida. Essa concepção faz certo sentido quando se observa que o ovo é uma fusão dos gametas masculinos e femininos para ser formar uma nova vida; equipara-se ao zigoto. Como ele era o princípio da reprodução da vida, ou seja, era fértil, ele foi atribuído à fertilidade, justamente o que Ostara significa.
Outro símbolo, também muito conhecido atualmente, é o coelho. Pela mesma razão que o ovo, o coelho foi atribuído à fertilidade porque é um dos animais que possuem mais facilidade para se reproduzir. E também quando a primavera chegava, os coelhos eram os primeiros animais a aparecerem na terra. O fator reprodutivo do coelho era muito acentuado nos festejos sexuais em que pessoas férteis copulavam ao ar livre.
Portanto Ostara é a deusa cultuada na páscoa, quando a terra era renovada, os espíritos renasciam e a vida estava no auge. É a ela que dedicamos nossos agradecimentos e ofertas quando utilizamos seus símbolos, os ovos e o coelho. Presentear uma pessoa com um ovo da páscoa significa que você está oferecendo prosperidade para ela.
Mais tarde, com o nascimento de Cristo e sua disseminação através do império romano, o cristianismo adotou a data para representar a ressureição de Jesus. Era uma data perfeita para isso, uma vez que Ostara significava exatamente a vida, a fertilidade, o renascimento. Entretanto não é a data exata em que ele renasceu.
No romance Deuses Americanos, Ostara existe porque as pessoas fazem suas preces e ofertas a ela, sem saber (através da cultura dos ovos da páscoa e do coelhinho), enquanto acham que estão dedicando a celebração a Jesus. Wednesday (Odin), inclusive, apela para a origem real da data para convencer Ostara a participar da guerra.