Com a série The Umbrella Academy em alta, é difícil não ouvir falar de Gabriel Bá, o quadrinista brasileiro que ilustrou a Grafic Novel em que a produção se baseou. Por sua vez, é impossível falar de Gabriel Bá, sem falar de seu irmão gêmeo e do Prêmio Eisner, que logo puxa Daytripper.
Para compreender a correlação entre esses aspectos, primeiro é necessário conhecer os prêmios que deram relevância ao quadrinista, muitos deles conquistados em parceria com seu irmão gêmeo Fábio Moon.
Eisner e outros prêmios
Os gêmeos começaram a produzir conteúdo na fanzine chamada 10 Pãezinhos, mostrando aos espectadores aquilo que eles queriam ver. Ela recebeu tantos elogios que acabou conquistado o Prêmio HQ Mix em 1999 como Melhor Fanzine e Desenhista Revelação, categoria que foi dividida entre os dois irmãos.
Nesta época, os gêmeos tinham um forte trabalho conjunto que resultou em premiação consecutiva no Prêmio HQ Mix entre 2003 e 2006, perpassando por categorias de Melhor Edição Especial Nacional, Melhor Desenhista Nacional, Melhor Blog de Artista dentre outras.
E então veio o Eisner Awards em 2008 e os gêmeos se tornaram os primeiros brasileiros a ganharem esse prêmio. Eles angariaram as categorias Melhor Antologia, conquistada com a obra 5, e Melhor Quadrinho Digital, com Sugarshock. No mesmo ano, Gabriel Bá recebeu sozinho o Prêmio Scream Awards como Melhor Artista de Quadrinhos; junto de seu irmão recebeu o prêmio nacional Jabuti na categoria de Melhor Livro Didático com a adaptação de O Alienista (Machado de Assis); e conquistou o Prêmio Harvey Awards na categoria Melhor Nova Série com The Umbrella Academy, que também levou o Eisner de Melhor Minissérie.
Seu trabalho singular nas HQs escritas por Gerard Way rendeu a Bá uma visibilidade para além dos quadrinhos. Primeiro porque o roteirista era vocalista de uma banda conhecida, o My Chemical Romance, e segundo porque The Umbrella Academy virou série da Netflix e ganhou o coração dos telespectadores.
E para comprovar sua assertividade, em 2011 os irmãos atacaram novamente e receberam mais uma vez o Prêmio Eisner com Daytripper na categoria Melhor Série Limitada, bem como o Harvey em Melhor História em Edição Única.
E os dois não pararam por aí. Em 2015, eles publicaram a HQ Dois Irmãos baseada no romance homônimo de Milton Hatoum. No Brasil, ela foi impressa pelo selo Quadrinhos na Cia. (Companhia das Letras), e nos Estados Unidos, a publicação veio através da Dark Horse Comics.
A história foi tão bem recebida que conquistou três importantes troféus. Eles receberam novamente o Prêmio Eisner (2016) em Melhor Adaptação de Outro Meio, o HQ Mix em Melhor Adaptação para os Quadrinhos e o Harvey Awards em Melhor Edição Estadunidense de Material Estrangeiro.
No mesmo ano, a dupla adaptou o romance de ninguém mais ninguém menos que Neil Gaiman (Como falar com garotas em festas). O renomado sonhador da saga Sandman, inclusive, teceu alguns elogios sobre o trabalho dos gêmeos.
The Umbrella Academy e Daytripper
Gabriel Bá se tornou um quadrinista multipremiado devido ao traço singular que empregava a suas histórias, que traduzia a junção da profundidade íntima dos personagens com o humor. Ele fazia seus desenhos para entreter os interlocutores, mas os conquistava ao mergulhar no profundo oceano das emoções interpessoais. Foi um tiro certeiro.
Apesar de serem obras diferentes, com premissas distintas, Daytripper e The Umbrella Academy compartilham essa característica intrínseca de Gabriel Bá. Elas revelam como a história pode ser também contada através do desenho e da forma que ele é feito. O quadrinista não poupou o leitor e perfurou seu coração sem direito a defesas.
Os prêmios que Daytripper recebeu foram adequadamente merecidos porque a obra traz à tona a violência do cotidiano apático e comum que só elimina a individualidade e sua expressão. A obra conseguiu condensar em uma história a metáfora de um cotidiano como uma arma que atira e mata o ser humano com o passar dos dias.
O valor artístico que essa novela gráfica representa é tão inegável que foi notada pela DC Comics, publicando-a através do selo recém-extinto Vertigo (substituído por DC Black Label).
The Umbrella Academy, por outro lado, traz a imaturidade como fator principal. Ela mostra com as sete pessoas superpoderosas podem ser super comuns em seu íntimo ao ponto de não conseguirem amadurecer porque não tiveram um pai. Na história, os sete heróis tiveram uma figura paterna autoritária, mas jamais conheceram o lado fraterno e carinhoso de um pai. Portanto eles se tornaram adultos de 30 anos com a mentalidade imatura de um adolescente de 18.
Mesmo assim, as duas obras compartilham o que há de melhor em Gabriel Bá: a sensibilidade para espelhar o ser humano em seus desenhos. Seres humanos não são apenas defeituosos, mas também superpoderosos; não são apenas ordinários, apesar de serem simples; vivem uma rotina que os homogeneízam, mas almejam expressar as cores de sua individualidade; em suma: o ser humano é a contradição que faz a natureza ter um gosto inefável.