É difícil encontrar alguém que desconheça a história de Mogli, o menino órfão que é criado por lobos no coração de uma floresta na Índia Central. A história de Rudyard Kipling já teve algumas adaptações para as telonas, a mais famosa delas sendo a animação clássica da Disney de 1967. Depois do sucesso dos remakes live action de “Malévola (2014) e Cinderela (2015), chegou a vez de revisitarmos a história do menino lobo sob um novo olhar na nova empreitada dos estúdios Disney.
O visual e a ambientação do filme são deslumbrantes e a maior parte foi construída em computação gráfica. O único elemento live action é Mogli, interpretado pelo estreante Neel Sethi com a naturalidade de um veterano. Surpreendentemente o 3D foi bem aproveitado em alguns momentos chave do filme, transportando o espectador para dentro das cenas através dos elementos da natureza como a chuva e uma neblina.
A história dessa nova versão é bem mais elaborada do que a da animação de 67 e mais próxima ao texto original de Rudyard Kipling, e isso deu a chance de vários personagens serem mais bem desenvolvidos e mostrarem ao que vieram. O melhor exemplo disso é o tigre Shere Khan, dublado por Thiago Lacerda, que marca presença no filme desde os primeiros minutos. O tigre afetado e meio bobão que só aparece no final da animação clássica em nada se parece com o predador implacável desta versão, que fica tão obcecado em pôr as garras no menino que recorre à violência mesmo quando esta não é necessária. A alcateia onde Mogli foi criado e que só aparecia nos primeiros minutos da animação também ganha mais espaço nesse filme, e a presença deles nos permite visualizar com mais clareza o dilema de Mogli entre agir como um lobo ou confiar nos seus próprios instintos humanos.
Enquanto alguns personagens aparecem mais, outros como a cobra Kaa, aqui dublada por Alinne Moraes, perdem espaço. A cobra é uma das personagens que mais chama atenção nos trailers, porém só aparece em uma cena do filme e acaba funcionando como narradora, apresentando o passado de Mogli a ele e ao público. A construção perfeita da personagem pela Disney junto à dublagem envolvente de Alinne torna a aparição de Kaa um dos momentos mais memoráveis do filme.
O único erro do longa foi a insistência em manter a canção clássica “I Wanna Be Like You” na história mesmo o filme não sendo mais um musical. Além dela foi também mantida a canção “Bare Necessities”, que fala sobre a boa vida, cantada pelo urso Baloo (Marcos Palmeira). A segunda se encaixou bem no filme porque foi usada apenas como uma música que o urso e Mogli estavam cantando para se divertir, porém a primeira destoou da cena, quebrando totalmente o tom. O Rei Louie (Thiago Abravanel) é o segundo grande vilão do filme nesta versão, e quando ele começa a cantar no contexto de um musical, ou seja, continuando um discurso de forma cantada, a cena se perde porque parece um recorte colado no lugar errado. Além da música – que é alegre e animada – não combinar nada com a personalidade do personagem, o filme, que é uma aventura, de repente vira um musical por dois minutos, e quando a música acaba ele volta para uma cena de ação que não tinha nada a ver com o que estava acontecendo antes.
Uma das musicas da trilha sonora do filme Mogli – O Menino Lobo
Apesar disso o filme carrega a essência da animação clássica consagrada pela Disney e tanto diverte quanto emociona, sendo uma ótima opção para pessoas de todas as idades. Num saldo geral, a nova empreitada da Disney é um presente para os olhos e vai aquecer o seu coração como um copo de chocolate quente no inverno. Com direção de Jon Favreau (Homem de Ferro), “Mogli – O Menino Lobo” estreia hoje (14) nos cinemas e traz na versão brasileira as vozes de Thiago Lacerda, Marcos Palmeira, Julia Lemmertz, Dan Stulbach, Alinne Moraes e Thiago Abravanel.