Como todas as obras de Fabien Toulmé, essa não poderia ser menos incrível. A Odisseia de Hakim foi publicada recentemente pela editora NEMO assim como outros trabalhos do autor, Não era você que eu esperava e Duas Vidas.
Neste primeiro volume da trilogia, o jovem Hakim, rapaz sírio, é o protagonista da biografia. De início, Fabien contextualiza a antiga vida do personagem com o pós revolução, mostrando seus sonhos, as conquistas e sua agradável vida em Alepo como jardineiro. Mas todo o encanto e a boa vivência se perdeu em 2011, quando a Síria tornou-se um lugar perigoso e as famílias precisam lutar por sua sobrevivência.
Para conter as manifestações que pediam por liberdade, o governo escolheu responder de forma nada amistosa, prendendo, torturando e assassinando civis que se opunham ou que apenas aparentassem fazer parte da oposição.
Hakim foi uma das vítimas de Bashar al- Assad, sendo detido e torturado por dias, perdendo sua floricultura para abrigar tropas do ditador. Ao sair da prisão em meio a uma guerra civil, a família do jardineiro temia que voltassem a procurá-lo e dessa vez acontecesse algo pior. É nesse momento que começa a busca por um lugar melhor, quando Hakim sai do seu país e segue para o Líbano.
O declínio de sua pátria o ronda como fantasma e isso provoca uma sensação de angústia no leitor, que acompanha a saga do personagem em busca de emprego e uma vida mais digna. O título de refugiado pesa tanto quanto a vontade de libertar sua família do caos sírio. Essa primeira HQ narra suas viagens da Síria para a casa de um amigo no Líbano, do Líbano para uma tia na Jordânia e então para um outro amigo na Turquia.
O desespero quanto à vida que Hakim vai além dos quadros em várias cenas. Todas as suas economias indo embora, seus empregos que mais pareciam trabalho escravo, o desprezo xenofóbico… é impossível não se sentir mal sabendo que tudo isso realmente aconteceu. Voltar para sua família não é uma opção e Hakim não desiste, mesmo enfrentando todas essas provações.
Fabien Toulmé traz nessa HQ um novo estilo biográfico. Dessa vez, seu público pode acompanhar até mesmo a produção do quadrinho, pois foi desenhado seus encontros com o personagem principal, que atualmente mora na França. Isso ajuda demais na empatia com o drama, já que são abertos vários parênteses explicativos. Os traços são característicos do autor e a forma que o mesmo brinca com as cores nas cena também.
“Nunca pensei que isso pudesse me acontecer. Mas me dei conta de que qualquer um pode virar um ‘refugiado’. Basta que seu país desmorone. E aí, ou você desmorona junto, ou vai embora”
Não se pode esperar menos do que um material perfeito quando a editora em questão é a NEMO. Ela sempre traz boas reflexões e histórias únicas.