Que a autora C. J. Tudor faz ótimos thrillers não é novidade para ninguém. Seu toque místico faz toda diferença, tornando seus mistérios ainda mais profundos e obscuros. Em As Outras Pessoas, traduzido pela editora Intrínseca, seus leitores não tem um segundo de alívio.
Gabe é um pai não muito presente na vida de Izzy e de sua esposa Jenny, apesar de dividirem o mesmo teto. Isso não significa que não as ame, ele tem seus motivos para não chegar em casa mais cedo do trabalho. Jenny não suporta mais suas desculpas e seu casamento está por um fio, mas seu marido prefere permanecer sem que ela saiba o que de fato acontece. É melhor continuar assim, segundo o mesmo.
” Mas o amor apaixonado sempre se abranda um pouco. Não tem jeito. Como tudo o mais, o amor deve evoluir. Para sobreviver, sua chama precisa ser baixa e constante, não alta e ardente. ”
Um dia, Gabe resolve dar uma chance ao que Jenny aconselha, e volta mais cedo que de costume para casa. No caminho, um rosto familiar aparece na traseira do caminhão a sua frente. Uma menininha pronuncia a palavra ”papai” e então o carro dispara. Em seguida, um telefonema acaba com sua noite, a notícia de que sua filha de apenas cinco anos, junto à sua mulher, foram encontradas mortas em casa.
Se sua filha estava morta, quem seria aquela menininha do caminhão? Faz três anos que o viúvo procura por essa resposta, tendo fé que sua garotinha ainda está viva em algum lugar escondida. Agora Gabe vive em uma van, entregando panfletos com a foto de sua filha na esperança de reencontrá-la. Depois de todos esses anos, algumas pontas soltas começam a aparecer, e as outras pessoas surgem para dificultar sua investigação.
”Porque a vida não é justa. Porque temos que escolher, e às vezes essas escolhas são difíceis. Às vezes nem temos escolha. Nem tudo pode ser consertado com agulha e linha e cola, e nem todos nós vamos terminar nossos dias numa varanda ensolarada.”
Dessa Vez, C. J prende seus fãs não só com seus personagens muito bem construídos e suas histórias piedosas, que mexem com o emocional do público e o aproxima da história. Em As Outras Pessoas, o sentimento de vingança desencadeia a fome literária, que é impossível saciar lendo apenas alguns parágrafos por dia. Aqui, precisamos saber o paradeiro de Izzy antes de dormir!
Quanto mais próximo do encerramento, mais embaralhado fica o quebra-cabeças. Nenhum personagem passa ileso, sem que tome culpa de alguma parte da história. Todos são suspeitos. A cada página virada, mais escuras as coisas ficam.
”O ódio pode servir de combustível para atravessar os piores momentos. Luto, desespero, terror. Amor e perdão podem mantê-lo aquecido, mas o ódio é capaz de abastecer um foguete até a lua. ”
Em alguns momentos, é possível vagar entre o real e o sobrenatural, que se camufla em uma narrativa bizarra. Será que é loucura do protagonista? Talvez ele esteja certo. Qual seu segredo? O que ele esconde durante tantos anos? Esse homem é culpado pelo assassinato de sua família? Esses são alguns dos questionamentos possíveis durante a leitura.
”As pessoas dizem que o ódio e amargura vão destruir você, mas estão enganadas. É a esperança. É a esperança que vai devorá-lo de dentro para fora como um parasita.”
Autora de outros grandes sucessos como O Homem de Giz e O que aconteceu com Annie, C. J. retorna ao Brasil com mais uma história incrível. Sua escrita é muito fluida e de fácil acesso, podendo ser degustada por jovens ou leitores maduros. Apesar de ser um livro de leitura bem rápida, a trama consegue passar sua mensagem com início, meio e fim muito bem organizados.
As obras da autora são, acima de tudo, muito interessantes. Exploram o pior lado da humanidade e traz reflexões nas entrelinhas. Conheça outros trabalhos dela e torne-se mais um fã.