O último Episódio da Terceira temporada de Sessão de Terapia foi ao ar dia 19 de Setembro. Os Dramas Pessoais de Theo e o desfecho de cada caso que acompanhamos por sete semanas foram apresentados, e nos restou ficar na saudade, esperando uma quarta temporada: Theo está em uma caminhada de autoconhecimento, crescendo e melhorando profissionalmente as questões emocionais mais que nos dois anos anteriores. Contudo, como foi possível perceber no último episódio, o personagem, habilmente bem desenvolvido, ainda traz suas questões mais profundas consigo e suas resistências. Será que veremos um quarto ano com o desenrolar da caminhada de Theo? Jaqueline Vargas e sua equipe de roteiristas já provou terem talento de sobra para dar conta de tramas inéditas, sem a base do texto original de Hagai Levi. E Selton Mello mais uma vez prova ser um diretor excelente, conduzindo magistralmente seu elenco com uma câmera precisa e sensível.
Vamos torcer para que a GNT lance essa terceira temporada em DVD, assim com as duas primeiras; e que ano que vem retornemos diariamente ao consultório de Theo (e ao de Dora também).
Confira agora a resenha da última semana de Sessão de Terapia:
EP. 31 – Bianca Cadore – Sessão 07
Confira Aqui.
EP. 32 – Diego Duarte – Sessão 07
Diego Retorna ao consultório com o exame de DNA nas mãos.
Essa sessão de desfecho costura bem o drama deste paciente que foi um dos mais doidos e mais belos. Do menino rebelde ao sensível e rechaçado jovem órfão emocionalmente de pai, Diego (e o excelente ator Ravel Andrade) expôs a fragilidade por trás da armadura e da bebida, e demonstrou como todo o consumo de álcool era uma defesa, uma tentativa de preenchimento de um buraco deixado pela relação pai-filho mal existente.
Neste episódio, somos surpreendidos pela chegada do Pai de Diego, que arrependido de sua atitude para com o filho, após o resultado do DNA, surge em busca de redenção. Aqui, contudo, o roteiro peca um pouco ao superexpor o que sutilmente já havia sido dito – o resultado do DNA. Ficou claro que Frederico era o Pai de Diego, não precisava ter posto isso em palavras. Fica claro a preocupação de que o público entendesse; mas a Série possui expectadores inteligentes demais para que a mensagem sutil não fosse captada.
Quando Diego sai do consultório, e caminha na rua, temos uma mensagem gráfica e imagética em cena – Ele está seguindo. A Terapia, para ele, serviu para isso. Frederico pede a Theo se pode ser seu terapeuta – E este nega, dizendo que poderia encaminhá-lo para uma colega (Rita? Seria uma interessante maneira de manter os dois personagens na próxima temporada).
O desfecho do caso foi maravilhoso, belo, emocionante e doloroso. Diego parece começar a encontrar as ferramentas que o auxiliarão em sua caminhada própria. Agora é Frederico quem precisa se haver com suas escolhas do passado e resgatar a relação com o filho que nunca antes ele havia tido de verdade – ele precisa adotá-lo, agora.
EP. 33 – Felipe Alcântaea – Sessão 07
Felipe começou como um caso interessante, demonstrou seu profundo egoismo e a dificuldade de se trabalhar emocionalmente, incluindo ai falas recorrentes de que não retornaria à analise.
Ele conta a Theo, confiante, que rompeu relações com a Mãe. Farto da chantagem emocional dela, Felipe resolveu descobrir que é capaz de ter uma vida própria, fora no ninho, das asas da mãe e daquela relação complicada que fora estabelecida ali. Ele sai da empresa e descobre que é capaz de ganhar a mesma coisa e trabalhar num lugar com o mesmo prestigio. Não precisa apenas da Mãe para isso. Felipe decide sair da posição de falo materno, aceitando sua própria condição de incompleto e correr atrás de seus próprios desejos. Apesar de, na sessão passada, negar que correria atrás de Guto, ele aqui assume essa ser uma possibilidade, e que mesmo correndo o risco de não conseguir retomar a relação, é um risco que vale a pena correr. E nem mesmo a sedução da Mãe, disfarçadas de pedido de desculpas conseguem fazer Felipe Voltar atrás. Ele termina a sessão confirmando seu horário da semana que vem, sendo esse um belíssimo desfecho de temporada para seu caso – a capacidade de dar continuidade à sua caminhada com seus próprios pés.
No inicio do Episódio, fica claro que Theo e Rita estão juntos, o que também não deixa de ser interessante ao romance do casal.
EP. 34 – Milena Dantas – Sessão 07
A Milena que surge diante de nossos olhos é completamente diferente da figura angustiada e ansiosa que aparecia nas sessões até então. Serena e de cabelos soltos, o que de imediato remete a uma melhora de seu quadro de TOC ao mesmo tempo que indica que a personagem está começando a ceder a sua mania de controle – os cabelos soltos emulam a liberdade, a excelente atriz Paula Possani demonstra que é hábil em contrastar as milenas antes e depois do remédio. Um competente trabalho de direção e atuação.
E pela primeira vez, Milena aborda os Pais na sessão. Ela fala, livremente, do passado e de um episódio fatal que parece ser o epicentro de seu transtorno Obsessivo-compulsivo. Milena acreditou até hoje que seu pensamento e desejo de morte, e sentimento de insatisfação com os pais, numa noite específica na qual fora obrigada a dormir com a tia enquanto eles iam sair, fora responsável pelo acidente de carro que os matou. Ela atormentou-se a vida inteira com a culpa, um sintoma muito comum de pensamento mágico, como se o fato de ter pensado nisso pudesse de fato ter gerado um acontecimento traumático com outra pessoa.
Belissimamente, Milena confessa que sente muita a falta dos Pais, e a abertura dessa porta sentimental mostra ser um dos passos mais importantes que ela pode dar para melhorar.
O episódio já começa inclusive espremendo o coração dos expectadores com uma linda cena de Theo e do filho na beira do lago, na qual ele lhe pede perdão e confessa que, tal como Diego, o uso de drogas mascarava um pedido de socorro.
EP. 35 – Dora – Sessão 03
Aqui Theo chega defendido, e demonstra mais uma vez que apesar de estar seguindo numa direção de reparação dos erros do passado, retomando sua relação com o irmão, com os filhos, e conseguindo impor a si mesmo uma atuação mais profissional enquanto terapeuta, sem deixar que o vínculo transferencial se torne nocivo aos pacientes (na medida que ele quer curar a todos, atravessando por vezes o limite de sua atuação profissional), ainda há ali questões mal resolvidas. As falas que de Evandro ecoam na cabeça de Theo até hoje, e isso demonstra uma habilidade do Roteiro em não desperdiçar o motivo do grupo de supervisão ter existido. Foi o disparador para Theo identificar com mais clareza suas limitações, e iniciar um ciclo de reparações indispensável para a continuidade de sua caminhada.
Theo retoma os vínculos com o irmão, reaproxima-se dos filhos e consegue desistir de manter o rancor e a raiva por Dora que lhe impediram de, com ela, engajar-se na Terapia. Tanto é que Dora, mais uma vez, confronta Theo sobre sua busca de ajuda terapêutica apenas quando há uma emergência. A cena final da sessão é rica de simbolismos. Aludindo a mesma troca de olhares da primeira sessão com Dora, nesta temporada, o momento de tomada de decisão de Dora continuar a atender Theo é incrivelmente bela. A carta que Theo devolve à Dora é o símbolo de sua reparação com a ex-mestra. E o barco, o presente no final, possui mil e um significados. O retorno da viagem de barco de Theo, para o inicio de uma caminhada, foi aceito por Dora, e juntos, eles podem dar continuidade à parceria abandonada anos atrás.
Sessão de Terapia, com roteiros absolutamente inéditos, se mostra uma excelente oportunidade para a teledramaturgia Brasileira, explorando novos nichos e propostas e linguagens, já que um dos diferenciais da série é sua aproximação com a linguagem cinematográfica, e uma construção audiovisual que pactua muito com a dramaturgia teatral, centrada absolutamente em diálogos. O bom equilíbrio que Selton Mello conseguiu nestes dois campos demonstra não só seu crescimento enquanto profissional e diretor, mas como a evolução da televisão Brasileira. É um imenso orgulho termos esse produto nas estantes nacionais.