O livro de estreia da escritora Michelle Sacks aqui no Brasil, “Você Nasceu para Isso”, leva o leitor a refletir sobre aquele velho ditado: “não julgue um livro pela capa”. Sua história faz pensar sobre a influência familiar em possíveis traumas que, consequentemente, geram personalidades difíceis, principalmente sobre decisões não ponderadas. Uma trama curta, trazida pela Editora Intrínseca em uma edição bem caprichada – chamando atenção pelo corte de folhas na cor vermelha. Altamente indicado aos amantes de Thrillers, que possuem sangue frio e sabem controlar muito bem a ansiedade ao ler esse gênero literário.
Perfeição perturbadora
Marry e Sam se mudam para a Suécia com o intuito de viverem uma nova vida longe da tão badalada Nova York. Com sua mulher grávida, Sam, o marido desempregado, descobre que herdou uma casinha numa pequena cidade, convencendo Marry de que suas vidas melhorariam com a mudança. Marry é uma dona de casa exemplar: limpa, cozinha, planta e cuida de Conor, filho do casal. Enquanto isso, seu cônjuge atua como o “homem da casa” e provedor de tudo, saindo todos os dias para tentar vender seu trabalho na área audiovisual.
Por esse cenário, tudo leva a entender que são uma família perfeita e muito feliz vivendo numa casa maravilhosa… Contudo, em seus pensamentos particulares e quando estão a sós, todo o conto de fadas fica em segundo plano, restando apenas a maldade e o egoísmo. Tanto Marry quanto Sam encenam o protagonismo de suas próprias vidas, guardando o que existe de verdadeiro em seu íntimo mais obscuro.
As máscaras começam a cair dentro da “família perfeita” com a chegada de Frank, melhor amiga de Marry. Esta, de cara, percebe que aquela não é a verdadeira companheira de anos, a menina aventureira de sempre. Frank também não joga limpo com sua amiga, fingindo felicidade pela teatral alegria de sua fiel amizade. E ao longo do desenvolvimento da trama, o nível de loucura de Marry, Sam e Frank vão piorando dia após dia.
Desde o início do livro, os personagens deixam bem claro quem realmente são. Sua narrativa é feita pelo ponto de vista de ambos, como se estivessem relatando o que está literalmente acontecendo, deixando o leitor ainda mais ansioso para saber até onde cada um vai para manter o rótulo de perfeição. Nenhum personagem é digno de empatia e cada qual utiliza de seus piores defeitos para mostrar poder sob o outro, criando climas pesados durante quase toda a história e provocando curiosidade àqueles que preveem o fim enquanto leem.