The Umbrella Academy: comparativo entre série e HQ

HQ original conquistou o Prêmio Eisner Award 2008 de Melhor Minissérie.

Rodrigo Roddick
Rodrigo Roddick
Escritor de fantasia e leitor voraz. Formado em jornalismo, mago nas horas vagas.
14 Min Ler

A Grafic Novel The Umbrella Academy, criada pelo vocalista e roteirista Gerard Way e o quadrinista Gabriel Bá, possui algumas divergências em relação à série homônima produzida pela Netflix, que estreou em 15 de fevereiro. Apesar de alguns detalhes serem os mesmos, outros foram completamente modificados, mas não comprometeram a trama principal, que é a mesma nos dois formatos.

Originalmente publicada pela Dark HorseThe Umbrella Academy foi impressa pela Devir no Brasil. Este ano ela ganhou a versão audiovisual produzida e exibida na plataforma de streaming Netflix, tornando-se assim a série mais assistida nos EUA. 

- Anúncios -
Capa de The Umbrella Academy: Suíte do Apocalipse pela Devir (Foto: divulgação)

A fama da série trouxe notoriedade para o quadrinho e para os dois autores, nos surpreendendo com o fato de um deles, Gerard Way, já ter sido vocalista da banda My Chemical Romance até 2013. Mas, mesmo com o aumento de popularidade, pouco foi falado sobre Gabriel Bá, o ilustrador da história. Vamos conhecê-lo um pouquinho antes de prosseguir com o comparativo.

Gabriel Bá é quadrinista brasileiro e possui um irmão gêmeo chamado Fábio Moon, que também trabalha com quadrinhos. Juntos eles foram os primeiros brasileiros a ganharem o prêmio Eisner Award (o Oscar das HQs) em 2008 com Obra 5, em Melhor Antologia, e Sugarshock, em Melhor Quadrinho Digital. Eles também trabalharam em uma obra muito conceituada e conhecida pelos aficionados por HQs chamada Daytripper, publicada no Brasil pela Panini Books, a mesma editora que imprimiu Sandman, de Neil Gaiman. Este que, inclusive, escreve a introdução do segundo volume, Dallas.

Capa de The Umbrella Academy: Dallas pela Devir (foto: divulgação)

DUAS HQS EM UMA HISTÓRIA

- Anúncios -

Quem já teve a oportunidade de ler os quadrinhos, percebeu que a primeira temporada de The Umbrella Academy foi baseada na minissérie Suíte do Apocalipse (2007 – 2008) e Dallas (2008 – 2009); e com certeza observou a primeira distinção entre as novelas gráficas e a série: a Netflix optou por amarrar as duas tramas em uma. A medida conferiu mais densidade dramática à construção dos personagens, porém originalmente elas são histórias distintas, acontecendo uma depois da outra. Suíte do Apocalipse é primeiro arco (com seis revistas) e Dallas, o segundo (também com seis). No Brasil, ambos foram impressos em dois volumes que compilaram as 12 HQs.

SINOPSE

A premissa é mesma. Em 1989, 43 três crianças nasceram de “gravidez espontânea” (as mulheres não estavam grávidas antes) e o milionário Sir Reginald Hargreeves adota sete delas por saber que elas possuem superpoderes. Assim ele cria a Academia Umbrella (tradução livre) com intuito de salvar o mundo. O quadrinho até brinca com o objetivo de Hargreeves.

The Umbrella Academy: jornalistas perguntam a Sir Reginald o motivo da adoção (Foto: reprodução)
The Umbrella Academy: o mundo questiona por que precisa ser salvo (Foto: reprodução)

CODINOMES

- Anúncios -

Os sete “heróis” também são os mesmos, com leves distinções na caracterização e poderes. Além disso, alguns codinomes são iguais enquanto outros não foram explorados na série. 

Número 1 – Luther, conhecido também como Spaceboy (Garoto Espacial).

- Anúncios -

Número2 – Diego, o Kraken.  

Número 3 – Allison, a Rumor

Número 4 – Klaus, o Séance (em traduções livres foi chamado de Espírita). 

Número 5 – Cinco (ele é o único que não possui nome). 

Número 6 – Ben, o Horror

- Anúncios -

Número 7 – Vanya, que não possui codinome por ser excluída da equipe. 

E também há O Monóculo, o codinome do Sir Reginald Hargreeves, que fica subentendido na série.

The Umbrella Academy: da esquerda para direita: Vanya, Cinco, Klaus, Allison, Diego e Luther (Foto: reprodução)

O MONÓCULO

A razão de seu codinome vem do utensílio que ele nunca tira e que configura sua inclusão na The Umbrella Academy como mentor. Há uma curiosidade acerca do monóculo que não é explorada na série: ele possui o poder de enxergar como “uma pessoa realmente é”.

- Anúncios -
The Umbrella Academy: Número 5 enxerga através do monóculo como Pogo era antes do aprimoramento (Foto: reprodução)

E também há um detalhe sobre Sir Reginald: ele é um alienígena disfarçado! No quadrinho ele também é um medalhista olímpico, cientista e bilionário. Se tornou uma lenda construindo aparelhos tecnológicos que moram no imaginário coletivo da humanidade como cinto antigravitacional, o televador (uma espécie de teletransportador) e outras coisas do tipo. Na série não há um aprofundamento na vida deste personagem, ela apenas mostra o fato dele ser rico e um pouco do passado humano dele.

Será que a Netflix estava guardando estas revelações para a segunda temporada?

PERSONAGENS QUE NÃO APARECEM

- Anúncios -

Existe uma lista de nomes que não fazem parte da obra audiovisual da Netflix porque estavam fora da trama que ela exibiu. Vamos listar os mais significativos.

Abhijat – Ele é o guarda-costas de Sir Reginald Hargreeves, mas sem muita importância na história.

Chipanzés – Não apenas Pogo é um primata com faculdades mentais evoluídas. Existem outros aprimorados como o Body, o detetive parceiro de Lupo.

Lupo – é um detetive que aparece como “colega” do Diego. Na série ele foi substituído por Eudora Patch para aumentar a carga dramática.

Outros personagens com maior importância estão ao longo do texto.

A ORQUESTRA DOS MALDITOS E O MAESTRO

[SPOILER ALLERT – SÓ QUEM JÁ VIU A SÉRIE DEVE PROSSEGUIR] 

A série da Netflix mostra que a vibração acústica atinge uma frequência que desencadeia os poderes de Vanya e que eles são a causa do apocalipse, mas no caso da HQ a história é um pouco diferente. Existe uma equipe de músicos que compõem a intitulada Orquestra dos Malditos e um homem chamado O Maestro, que a lidera. Na série existe a orquestra e um maestro também, mas com papéis secundários na trama e sem relação com a importância que a HQ construiu.

Maestro escreve uma peça que, segundo ele, é capaz de desencadear o fim do mundo se tocada da maneira correta, e é justamente aí que Vanya entra. A série não se preocupa em explicar por que Vanya precisa fazer um concerto para destruir o mundo, apenas mostra que a música libera seus poderes. Contudo a HQ constrói um belo sentido para a existência da orquestra. Fica bem claro que o concerto é necessário porque a música é uma vibração sonora que pode sintonizarfrequência do universo, portanto, seguindo este raciocínio, seria capaz de provocar um abalo na estrutura do mundo, consequentemente, destruindo-o. E os poderes de Vanya têm tudo a ver com isso.

The Umbrella Academy: Maestro revela que Vanya é essencial ao seu plano (Foto: reprodução)

Leonard Peabody não existe na HQ porque o Maestro é o instrutor dos poderes de Vanya. A escolha da Netflix por fazer esta mudança foi bem acertada, pois ela construiu um personagem ímpar com um passado crível e bem concatenado à trama. É mais palpável para o público se identificar com um homem comum desejando vingança, e destruir o mundo no processo, do que um lunático compondo uma sinfonia para este fim.

Também houve mudança no final de Vanya. Nos quadrinhos ela leva um tiro na cabeça que é disparado por seu irmão Cinco, mas consegue completar o concerto e assim a lua é destruída, jogando um pedaço dela na Terra, como na série. Porém é Klaus quem salva o dia e não Cinco. A razão disso deve-se a um aspecto do poder de Séance que não aparece na obra audiovisual.

HAZEL, CHA-CHA E A COMISSÃO

The Umbrella Academy: Cha-Cha e Hazel sequestram Klaus (Foto: reprodução)

Os dois assassinos que mantêm a linha do tempo inalterada eliminando os alvos apontados pela Comissão, na verdade, não estão em nem um quadrinho de Suíte do Apocalipse. A aparição deles acontece em Dallas, o segundo volume da minissérie. Cha-Cha, inclusive, é um personagem masculino assim como Hazel. Na série ela é interpretada pela cantora Mary J. Blige, que conquistou o público e foi considerada a melhor personagem. 

Os dois parceiros são sinalizados como os melhores agentes, depois de Cinco, e os mais violentos que existem. Nos quadrinhos eles não apresentam nenhum resquício sentimental humano, mas sim uma necessidade cômica e incessante por doces. Na série, este desejo vira marca registrada de Hazel e se torna o detalhe precursor da paixão dele por Agnes, a atendente da loja de rosquinhas. Neste quesito a Netflix ganha ponto por humanizar os “vilões”, aproveitando Agnes, perdida no meio da HQ, para constituir um par romântico com Hazel, fato que só acontece na série. 

The Umbrella Academy: Hazel e Cha-Cha são mais violentos que na série (Foto: reprodução)

Comissão é apresentada com outro nome, Temps Aeternalis, mas funciona exatamente como na série, com uma pequena grande diferença na personagem A Gestora, que nos quadrinhos é um peixe-dourado chamado Carmichael. A produtora de streaming deve ter achado que um peixe dentro de uma cápsula robótica seria demais para compor o enredo dramático de The Umbrella Academy.

Outra distinção é que Cinco conta toda a história envolvendo seu trabalho acerca do Temps Aeternalis para Allison, não para Vanya, pois esta está acamada devido ao seu ferimento. Cinco leva Rumor junto dele para o Escritório do Tempo, onde discute com Carmichael o assassinato do presidente Kennedy, que possui uma peça chave na trama do segundo volume, Dallas, porém é apenas mencionado na série do streaming.

AVENTURA NA TORRE EIFFEL

No oitavo episódio da série, a filha de Allison, Clarie, faz alusão a uma aventura que a Academia Umbrella viveu na Torre Eiffel, mas isso fica no imaginário do espectador porque Allison não chega a contar o que aconteceu lá. Entretanto, nos quadrinhos há toda uma narração desta aventura em forma de recordação, onde eles se deparam com um vilão que não é visto na série: o Robô-zumbi.

The Umbrella Academy: flashback da aventura na Torre Eiffel (Foto: reprodução)

Além dessa aventura, muitas outras aparecem ao longo dos dois volumes.

KLAUS COM NOVOS PODERES

Klaus, nosso Número 4, é um dos personagens mais adorados pelo público. E com razão! Ele desafia a normalidade superestimada que nós seres humanos defendemos a cada respiração. Inclusive ele chega a dizer isso a Ben na série quando o irmão aponta para o quão longe ele chegou sem seus entorpecentes. Na produção da Netflix, Klaus é bastante próximo do que consideramos “um louco”, mas nos quadrinhos não é bem assim. Ele, além de ser mais “centrado”, possui uma habilidade que não é vista na série: telecinésia! Igual a Jean Gray dos X-men! Além disso, o Séance também é capaz de sintonizar a vibração psíquica com ondas eletromagnéticas.

Apesar dos poderes serem interessantes, Klaus tem um papel importante na luta contra Vanya. Disfarçando-se de Reginald Hargreeves, ele distrai a irmã por algum tempo do concerto que ela está tocando.

The Umbrella Academy: Klaus se disfarça de Sir Reginald (Foto: reprodução)

Outra modificação envolvendo o personagem é quando ele vai para “o outro mundo”. Na série fica um tanto branda a maneira que ele morre e vê seu pai, mas na HQ não é tão abstrato. Ele leva um tiro na cabeça disparado por Cha-Cha e morre de verdade. A partir daí segue a mesma cena que é vista no audiovisual, de Klaus conversando com Deus. Ele não simpatiza com o Número 4 e considera que o diabo também não iria querê-lo no inferno, portanto resolve revivê-lo. A diferença é que Deus é um homem andando a cavalo e não uma menininha de bicicleta como na série.

Esta pequenina modificação foi mais um acerto da Netflix, pois ao colocar o Todo Poderoso como uma criança, ela conseguiu atingir um sentido grandioso: Deus brinca com vida de todos nós.

The Umbrella Academy ganhou o prêmio Eisner Award em 2008 como Melhor Minissérie e isso, por si só, já desperta o interesse para conferir a história original. Fica aí o convite.

Leia ainda mais

Compartilhe este artigo