O legado de grandes franquias tem sido muitas vezes desrespeitado na indústria audiovisual atual, que busca engajamento a qualquer custo, chegando a comprometer a essência de suas histórias. É uma alegria imensa ver que “Downton Abbey: O Grande Final” vai na contramão disso.
A icônica série britânica chega a um desfecho emocionante, trazendo um final repleto de esperança, otimismo e aquela sensação aconchegante que aquece o coração.
O tema central da série é a quebra de paradigmas na sociedade britânica, com foco na decadência da instituição aristocrática. Essa decadência é explorada sob diversas perspectivas: os empregados que dedicam suas vidas à família, os vassalos que habitam aquelas terras, as diferentes gerações da nobreza que enfrentam conflitos ao lidar com as mudanças dos tempos e as pessoas que buscam romper a qualquer custo com essa hierarquia social pré-determinada.
Todo esse turbilhão de histórias e conflitos distintos é amarrado de forma brilhante no capítulo final, uma alquimia perfeita entre revisitar e homenagear as personagens tão queridas e amadas, enquanto o roteiro demonstra saber exatamente a hora de parar. Saber quando parar talvez seja o maior superpoder que uma franquia tão duradoura pode ter, não apenas ao decidir encerrar tudo com este filme, mas também ao equilibrar os arcos individuais das personagens.
É aquele capítulo final de novela que reflete o carinho e o cuidado dos criadores com a obra. Em nenhum momento surge a sensação de “fim de festa” ou “fim de carreira”; pelo contrário, transborda a mais nobre das atitudes diante de um fim que não é realmente um fim, mas sim uma celebração.
É impossível não admirar cada detalhe deste filme, das atuações impecáveis e cheias de confiança aos figurinos deslumbrantes, que ousam explorar e abusar das silhuetas complexas e muitas vezes mal executadas dos anos 20. O elenco e a produção entregam uma verdadeira sinfonia de intimidade, algo que só quem se conhece há muito tempo é capaz de alcançar.
